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Era Uma Vez No Oeste (1968)

Lento como o deserto, Era Uma Vez no Oeste ( C'era una Volta il West, 1968 ) é o espelho de seu cenário. Sendo uma história de ganânc...


Lento como o deserto, Era Uma Vez no Oeste (C'era una Volta il West, 1968) é o espelho de seu cenário. Sendo uma história de ganância, amor, mentiras e muitos tiros, ingredientes recorrentes nos filmes de Sergio Leone, essa talvez conte com o maior primor técnico do diretor. O gênero, western spaghetti, mais do que conhecido pelo italiano já havia sido moldado por ele com a trilogia dos dólares, estrelada pelo então galã Clint Eastwood. Em Era Uma Vez No Oeste, porém, Leone consegue atingir um nível de precisão técnica e domínio de câmera ainda maior do que nos filmes anteriores.

Se Três Homens em Conflito (Il Buono, il brutto, il cativo, 1966) termina com um duelo triplo de inquietar o mais frio dos espectadores, Era Uma Vez no Oeste já começa com uma cena a altura. Aliás, essa cena já dá o tom do resto do filme. Vagarosa e sem pressa nenhuma, com closes de três personagens que esperam um trem numa estação. O calor exala pela tela com diferentes planos em detalhe de um suando ao sol, outro parado embaixo de uma goteira e o terceiro brigando com uma mosca que insiste em lhe perturbar a soneca. Ao longo de vários minutos os personagens esperam a chegada do trem, mas em nenhum momento o espectador se sente entediado com o que vê. É impossível que isso aconteça, pois Leone sempre mostra uma visão diferente da mesma cena.


O trem chega, um indivíduo descarrega algumas malas e mais nada. Os três homens que esperavam já se preparam para ir embora quando o sinal do protagonista toca pela primeira vez. Aquela gaita tão famosa que irá soar por diversas vezes durante o filme, sempre anunciando a estrela principal, “o homem que não fala, mas toca”. Charles Bronson dá vida ao protagonista sem nome, e de bom humor estrela o primeiro diálogo propriamente dito do filme, passando dos 15 minutos já. Um diálogo afiado e bem humorado, como não poderia deixar de ser, é mais uma marca de Sergio Leone.

Charles Bronson tem aqui um papel difícil. Com pouquíssimas falas, o ator preenche a tela com seu rosto e sua expressão cansada do calor do deserto. Um rosto marcado pelo tempo e pela amargura, é fácil desconfiar dos motivos pelos quais ele está ali, mas saberemos sobre eles com certeza apenas nos minutos finais da obra. Não obstante, toda ação do filme é assim, envolta em mistérios e com meias explicações que surgem para serem totalmente descobertas lá para frente da estória. O espectador que vai até o filme sem ler a sinopse pode se sentir perdido em sua primeira hora de película, porém isso faz parte da situação. A desconfiança é mútua e não se sabe ao certo quem é mocinho e quem é vilão, quem é experto e quem é inocente.


Qual seria a sinopse básica de Era Uma Vez no Oeste então? Difícil falar sem dar spoilers. Basicamente Harmonica (apelido dado a Charles Bronson por outro personagem, porque ele vive tocando sua gaita de boca) está na cidade em busca de Frank (Henry Fonda). Este assassinou toda a família McBain e encobriu o crime com pistas falsas, a fim de incriminar de Cheyenne (Jason Robards). Já Jill (Claudia Cardinale) é a noiva do falecido Brett McBain (Frank Wolff) que chega a cidade e se depara com essa chacina no que seria seu futuro lar. A partir daí a trama se desenrola com inteligência e viradas que colocam os personagens em conflito constante entre si, o que abre um enorme leque de traições e desconfiança.


Direção e roteiro dividem o maior crédito de Era Uma Vez No Oeste. Se no primeiro quesito Leone conduz com perfeição, o segundo não fica para trás. Assinada ainda por Dario Argento e Bernardo Bertolucci, a história marca a reunião de três dos maiores diretores italianos em atividade à época.

Comparado por alguns a uma ópera, Era Uma Vez no Oeste tem a grandeza de uma tragédia grega e deve muito de seu ritmo cadenciado à trilha sonora de Ennio Morricone. Em mais uma parceria com Leone, o compositor italiano deixa sua expressiva marca no filme, principalmente com o tema principal, sempre introduzido por Harmonica em sua gaita de boca.


Mais de 40 anos depois, com a fase western tendo passado há tempos, contando apenas com alguns lapsos e homenagens, Leone continua sendo o principal expoente do estilo junto com John Ford. Seus protagonistas silenciosos e seus duelos antológicos, porém, sempre terão destaque no cinema mundial.



Giancarlo Couto

3 comentários

  1. Para mim um dos melhores filmes de faroeste de todos os tempos.

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  2. "...pois Leone sempre mostra uma visão diferente da mesma cena." É isso que diferencia o talento do resto. O jeito de contar uma história. Parabéns pelo excelente texto Gian.

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